O espetáculo ‘Chica Fulô de Mandacaru’, do grupo ‘Cia Casa Circo’, de Macapá (AP), encerrou a mostra competitiva do Festival de Teatro do Tapajós na noite desta quarta-feira (15), na Casa de Cultura, em Santarém. O público, ao chegar no espaço das apresentações, se deparou com um cenário de cores marcantes e com características do sertão nordestino. No palco, dois atores – Ana Carolina e Jones Barsou, que encenaram de forma marcante e envolvente sobre a história de uma mulher que luta por liberdade e contra a opressão de homens agressores.
Na apresentação teve sincronia nas expressões corporais, canto com letra autoral e dança. O tema abordado teve contundência diante de uma sociedade caracterizada como misógina, o que para quem assistiu, trouxe reflexão sobre as lutas e dores de uma mulher – do passado ao presente. Com roteiro literal, de cunho político social, os atores mostraram em cena as várias faces de uma história vivida no interior do sertão nordestino sobre a emancipação feminina e a violência de gênero. No olhar da platéia, era visível a concentração, muitas mulheres se emocionaram e de alguma forma se identificaram com o texto interpretado.
“A Chica tem muito de várias mulheres. Trata-se de uma mulher que foge de um casamento arranjado e quando ela foge do prometido, José Aparecido, um fazendeiro, no ato de muita violência, ele tenta abusar dela no caminho. A Chica revida em uma briga elétrica corporal com ele e depois, mesmo não sabendo se ele morreu ou não, ela corre o sertão adentro”, explicou a atriz Ana Caroline, que vive a personagem Chica Fulô.
Vivenciando vários personagens, utilizando máscaras e vestimentas trocadas em um cabide instalado em cima do palco, a atriz, que tem um timbre de voz suave e vibrante, representou de forma poética os sentimentos da protagonista da peça que quer liberdade.
Toda essa história é narrada ao som de um violão e expressões artísticas fortes, vividas pelo personagem ‘Brincante’, do ator e diretor do espetáculo, Jones Barsou. Ele afirma que a proposta é reverberar o tema e despertar também o interesse pelo teatro.
“Que os homens tenham mais companheirismo e compreensão desse universo feminino. Nós homens, a gente é extremamente machista no nosso cotidiano, que a gente possa despertar mais essa reflexão, mudança de comportamento. Politicamente tem essa intenção, saber que a violência de gênero tende a crescer e podemos conscientizar”, enfatizou.
A professora da Ufopa que ministra aulas com fundamentos teóricos em artes no curso de pedagogia, Eliane Aguiar, ressaltou sobre a temática do espetáculo. “Gostei demais da apresentação, fiquei muito feliz, principalmente a questão da mulher, da misoginia, tem frases muito fortes e a interpretação foi maravilhosa”, disse.
Geise Tapajós, também professora, da área de educação especial, revelou a emoção sentida e como o teatro agrega na vida pessoal e profissional.
“Achei maravilhoso, foi algo emocionante e ao mesmo tempo houve aquele cômico, com aquela quebra, afinal são muitas histórias contadas que acabamos vivenciando. Identifiquei-me com a luta das mulheres, quando temos coragem de enfrentar, conseguimos muito. Sou amante do teatro, sou pesquisadora dentro do meu trabalho, eu acabo usando várias técnicas de teatro com meus alunos com deficiência, me ajudam muito”, finalizou.
Serviço: Idealizada pela dupla de fazedores de cultura de Santarém, Elizangila Dezincourt e Elder Aguiar, responsáveis pelo Grupo Olho D’água, o evento tem o patrocínio da Equatorial Energia Pará, por meio da Lei Rouanet de Incentivo à Cultura. O objetivo do FestTeatro é proporcionar experiências dos fazeres e saberes em uma verdadeira imersão artística, de encontros com a comunidade amazônica.
Ascom do FestTeatro
Texto: Natashia Santana e Diene Moura
Revisão: Natashia Santana
Fotografia: Júnior Aguiar e Carlos Cristiano