O espetáculo ‘Tucumã e Buriti – As brocadas do Tarumã’ do Grupo Jurubebas, de Manaus (AM), apresentou, nesta quarta-feira (14), na Casa da Cultura, uma narrativa que trata da fome do corpo e da alma. Em cena, estava a atriz trans, Nic Queiroz, na companhia de Emily Danali, e do ator Leandro Paz. Eles interpretaram sobre a dualidade de desejos e perspectivas de vida de duas irmãs que moravam em uma comunidade do estado do Amazonas e estavam conectadas pelo cordão umbilical.
As irmãs “Tucumã e Buriti” dramatizaram desejos que conflitavam entre elas. Enquanto uma queria se aventurar pelo mundo, a outra queria manter as raízes e permanecer no local de origem. Com uma corda presa na cintura, representando o cordão umbilical, a qual eram ligadas, as atrizes puderem contar as vivências na comunidade Tarumã, situada às margens do Rio Negro.
Todo roteiro do espetáculo foi baseado em depoimentos reais, colhidos in loco. Quem assistir podia entender que intenção era despertar no público uma reflexão sobre o que desejamos conquistar, seja um amor recíproco, ser um ganhador da mega-sena, conseguir milhares de seguidores nas redes sociais ou apenas o mínimo para sobreviver.
“A gente fala um pouco sobre a fome dessas irmãs, partindo dessas vivências delas na comunidade. A pesquisa é de relatos de lá, vivemos com eles um tempinho. E espero que as pessoas possam refletir um pouco sobre as fomes que sentem de forma literal, sobre as vontades, o que fazemos por nossas vontades, e ainda, o que sacrificamos, pois não existe certo e nem errado, existe a vida a ser vivida”, frisou Nic Queiroz.
A atriz Emily, falou da personagem que encenou, onde precisa conviver com o medo constante da irmã ‘Tucumã’, ela encoraja a cada cena.
“Quero muito que o público saia daqui motivado, para acreditar em si, de que é isso que eu quero e eu vou conquistar, não vou desistir! ‘Tucumã’ e ‘Buriti’ falam dos sonhos delas e as duas ficam discutindo e nenhuma larga. Tá, eu vou ceder meu sonho por causa de ti! Não, as duas mantêm seus sonhos unidas, respeitam suas opiniões, as diferentes escolhas e conseguem se amar das mesmas formas”, destacou.
A atriz Ana Caroline, natural do Amapá, definiu o espetáculo como incrível e de tema de extrema importância a ser abordado na sociedade.
“São caprichosos no que fazem, texto, interpretação, são incríveis, adorei! Acho interessante essa fome que cada uma tem, no meio disso tudo existe todo um contexto social. De escassez e de vontade mesmo de explorar outros horizontes e essa ideia também de não privar o outro, das suas vontades”, analisou.
Já a jornalista, Latoya Lucas, ficou surpresa com o que presenciou. “Eu gostei e achei bem diferente. E ver eles unidos por uma corda, nunca tinha visto aqui no palco em Santarém. E sim, superou minhas expectativas. A fome é uma realidade da Amazônia, a gente vive muito isso, trouxeram uma temática que é a nossa realidade também”, observou.
Serviço: Idealizada pela dupla de fazedores de cultura de Santarém, Elizangila Dezincourt e Elder Aguiar, responsáveis pelo Grupo Olho D’água, o evento tem o patrocínio da Equatorial Energia Pará, por meio da Lei Rouanet de Incentivo à Cultura. O objetivo do FestTeatro é proporcionar experiências dos fazeres e saberes em uma verdadeira imersão artística, de encontros com a comunidade amazônica.
Ascom do FestTeatro
Texto: Diene Moura
Revisão: Natashia Santana
Fotografia: Júnior Aguiar e Carlos Cristiano